MAURÍCIO TUFFANI,
Editor
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Ficou evidente o desgaste na imagem do governo do presidente Michel Temer (PMDB) e, sobretudo, de seu ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP) com a nomeação para a presidência da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Foi evidente a expressão, inclusive facial, de derrota do ministro na entrevista coletiva em que anunciou a escolha pela socióloga e cientista política Nísia Trindade Lima, que foi a candidata mais votada na instituição, desistindo da nomeação da médica e pesquisadora em biociências Tânia Araújo-Jorge.
O aspecto político dessa derrota já foi devidamente explorado pela imprensa. Uma boa avaliação desse fiasco foi a da jornalista Lígia Formenti, da Sucursal de Brasília do Estadão, em artigo do qual destaco o seguinte trecho.
Para os que acompanharam a movimentação desde a semana passada, o ministro da Saúde fez uma aposta incorreta. Ao escolher a segunda colocada na votação de funcionários em vez de Nísia Trindade, primeira colocada com 2.556 votos, Barros indicaria uma espécie de “intervenção branca” na instituição, um dos mais tradicionais centros de pesquisa e produção de medicamentos e vacinas do País.
Além dessa interpretação, a repórter dá também detalhes importantes sobre o vaivém do governo em seu artigo “Bastidores: Ministro sai como perdedor da disputa pela presidência da Fiocruz”.
Independentemente do desastre na tentativa de articular sua escolha para o comando da Fiocruz, esse episódio reforça a imagem de “gestão sem-noção” do atual governo com a área de ciência e tecnologia.
Que tenha sido uma “aposta incorreta” de Barros ou que ele tenha subestimado a capacidade de reação da Fiocruz: não teria lugar nenhuma dessas duas possibilidades se o ministro da Saúde ou sua equipe tivessem uma mínima ideia de como funciona numa situação como essa uma instituição de pesquisa com o peso político da Fiocruz.
Não se trata aqui de questionar a prerrogativa legal do presidente de escolher com base em uma lista tríplice. Na verdade, a reação teria sido diferente se a escolha inicial tivesse sido feita por um bom governo que já tivesse promovido ou pelo menos sinalizado avanços significativos na Saúde e com um ministro respeitado nessa área. Não é o caso, e, mesmo que fosse, a condução desse episódio teria sido feita de outra forma.
No final das contas, assim como Nísia não é, Tânia também não seria garantia de muitas facilidades para o governo. Uma simples consulta aos currículos Lattes de ambas já deveria ter mostrado, pelo menos, que nenhuma das duas está em plena sintonia com o atual governo na área de ciência e tecnologia. Em vez de suas próprias fotos, elas usaram em seus Lattes o logo #FicaMCTI, em protesto contra a fusão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação com o das Comunicações.
‘Sem noção’ ou ‘sem-noção’?
O uso do hífen em “sem-noção” por este blogueiro se baseou no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) por meio da consulta com a expressão “sem-” em sua ferramenta on-line. Desde que foi instituída a reforma ortográfica, desisti de tentar entendê-la. Hoje, em seu artigo “E o mico vai para o… Brasil!”, no Valor Econômico, a jornalista Rosângela Bittar observou que – o governo brasileiro não consegue saber se reforma ortográfica foi cumprida e se os demais países que homologaram o acordo já o colocaram de pé. E acrescentou:
Angola e Moçambique resistiam e resistem. Portugal critica. Há três anos, foi feito o diagnóstico sobre o que acontece: “Faz falta uma maior clarificação conjunta de prazos e de vontades”. Entenderam? Só essa definição justificaria uma revisão integral do acordo.
(…)
A sociedade não se adaptou, os professores ainda sentem desconforto, consultam-se especialistas para dirimir as dúvidas até hoje, 27 anos depois de feita a reforma e firmado o acordo. São décadas de evolução do mundo, da escrita, do pensamento, e a ortografia, mesmo reformada, caducou.
Viva a ferramenta de consulta do VOLP!
Lista de predatórios atualizada
O blogueiro e biblioteconomista Jeffrey Beall, professor da Universidade do Colorado em Denver, editor do blog Scholarly Open Access, anunciou ontem as atualizações de suas listas de publishers predatórios e também de publicações acadêmicas isoladas (“standalone journals”). Beall pode ser criticado, posto em dúvida, etc., mas sua lista não pode ser ignorada. E não só por pesquisadores, professores e pós-graduandos na escolha de periódicos para publicar seus estudos, mas também por agências de fomento e órgãos de apoio à pesquisa. Confiram as atualizações em “Beall’s List of Predatory Publishers 2017”.
Guerra entre periódicos
Eles não são periódicos predatórios, são publicados por instituições respeitadas, mas o crescimento acelerado de seus números têm gerado preocupações na comunidade científica. São os chamados mega-journals, a grande novidade no mundo das publicações científicas dos últimos anos, assunto da ótima reportagem “O duelo dos mega-journals”, do jornalista Fabrício Marques, na revista Pesquisa Fapesp. Leitura recomendada.
Destaques na internet
Seleção de artigos, reportagens e outros textos publicados on-line desde a coluna de ontem.
Agência Fapesp
- O papel dos gases na evolução das galáxias – Estudo sobre a queda do gás interestelar indica que todas as galáxias, das pequenas às gigantes, formaram-se em intervalos de tempo muito próximos
Peter Moon - Superfícies refletoras e árvores podem reduzir a temperatura das cidades – Simulação que combinou esses dois ingredientes foi a que apresentou o melhor resultado para a mitigação das ilhas urbanas de calor
José Tadeu Arantes - Nanopartículas produzidas em escala industrial podem ter aplicação em diversos setores
Pesquisa para Inovação
Blog do Pedlowski
- (Des)governo Pezão é o responsável pela depredação da Uenf
Marcos Pedlowski
Carlos Orsi
O Eco
O Estado de S. Paulo
- Bastidores: Ministro sai como perdedor da disputa pela presidência da Fiocruz
Lígia Formenti - Governo recua e decide nomear 1ª colocada em votação na Fiocruz
Carla Araújo - BNDES investe R$ 97,2 mi em projeto de vacina do Butantã contra a dengue
Vinicius Neder
Folha de S.Paulo
- Governo Temer recua e nomeará mais votada para presidir Fiocruz
Gustavo Uribe & Natália Cancian - Presidente da Fiocruz vai a Brasília para tentar evitar caos devido a eleição
Monica Bergamo - Sonda faz ‘radiografia’ de calotas polares em Marte
Salvador Nogueira, blog Mensageiro Sideral - Técnica brasileira pode transfonar bagaço de cana em carvão ativo
Reinaldo José Lopes - Paciente de 90 anos, estado vegetativo e internado há 570 dias, custa R$ 5 mi
Cláudia Collucci
O Globo
- Inovação a passos lentos – No cômputo geral, o cenário não pode ser considerado positivo, especialmente em razão da ampliação do apoio público às atividades.
Marcos Cintra (Opinião) - Após polêmica, Temer nomeia vencedora de eleição na Fiocruz
Catarina Alencastro
InforMMA
- Novos recursos para recuperar nascentes – Fundo Nacional do Meio Ambiente libera mais R$ 8,2 milhões para projetos em ES, MG e SC
- Ministério divulga relatório sobre a Caatinga – Levantamento realizado pelo Ibama mostra redução no desmatamento do bioma entre 2009 e 2011
- Comércio internacional do jacarandá tem novas regras
Jornal da Ciência (SBPC)
- Entidades divulgam nota de protesto contra cortes de verbas nas áreas de educação e CT&I na LOA 2017
- Governo corta R$ 1,41 bi dos projetos de pesquisa e inovação
Correio Braziliense
MCTI Notícias
Nature News
- Argentina’s researchers occupy science ministry – Young scientists angry at budget cuts say they have been denied permanent jobs
Valeria Román - Quantum computers ready to leap out of the lab in 2017 – Google, Microsoft and a host of labs and start-ups are racing to turn scientific curiosities into working machines.
Davide Castelvecchi - 3D ocean map tracks ecosystems in unprecedented detail – Tool to divide water masses into precise categories can help in conservation planning
Alexandra Witze
The New York Times
- Coal Fire, Not Just Iceberg, Doomed the Titanic, a Journalist Claims
Dan Bilefsky - Synthego Raises $41 Million From Investors, Including a Top Biochemist
Michael J. de la Merced - Keep Your Eye on the Balls to Become a Better Athlete – Pro sports teams are using a new video game that claims to sharpen cognitive skills. Some scientists are skeptical
Zach Schonbrun - Top Scientists Urge Trump to Abide by Iran Nuclear Deal
William J. Broad
Notícias Socioambientais
Observatório do Clima
- Verão eterno (vídeo no YouTube)
Pesquisa Fapesp
- O duelo dos mega-journals – Disputa entre PLOS One e Scientific Reports aponta mudanças no mercado das publicações científicas
Fabrício Marques
Retraction Watch
- ORI misconduct findings fell in 2016. Why? We ask the director
Alison McCook - “My time and energy were stolen:” Peer reviewer reacts to retraction
Alison McCook
Scholarly Open Access
- Beall’s List of Predatory Publishers 2017
Jeffrey Beall
Science
Valor Econômico
- E o mico vai para o… Brasil! – Governo não consegue saber se reforma ortográfica foi cumprida e se os demais países que homologaram o acordo já o colocaram de pé
Rosângela Bittar - Agora, governo de SP irá vender 9 fazendas de pesquisas
Bettina Barros
The Washington Post
Na imagem acima, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, em entrevista coletiva sobre a escolha da nova presidência da Fiocruz (Valter Campanato/Agência Brasil).
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