Ao todo nove prisões ocorreram por suspeita de espionagem de programa de mísseis por meio de câmeras para monitorar guepardos
FÁBIO DE CASTRO
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Presos no Irã desde janeiro por suspeita de espionagem, quatro pesquisadores ambientais foram acusados na semana passada de “semear a corrupção na Terra”, o que na legislação do país é considerado crime passível de pena de morte, informou no dia 23 o Centro para Direitos Humanos no Irã.
Os quatro acusados fazem parte de um grupo de nove pesquisadores e ambientalistas da Fundação Persa do Patrimônio da Vida Selvagem, entre eles duas mulheres, todos presos em janeiro. Mas, na semana passada, a promotoria decidiu que a acusação mais grave, punível com pena de morte, fosse feita contra quatro deles: Taher Ghadirian, Houman Jowkar, Morad Tahbaz e Niloufar Bayani.
Na ocasião, a Guarda Revolucionária Iraniana – unidade de elite das forças de segurança do país, que apoia o regime teocrático imposto pela revolução islâmica de 1979 – acusou os quatro ambientalistas de utilizarem armadilhas fotográficas para espionar o programa de mísseis balísticos do Irã. As câmeras tinham o objetivo de monitorar raros guepardos asiáticos em áreas naturais da região, segundo reportagem da revista Science.
“Muitos observadores vêm os detidos como peões em uma luta pelo poder entre a linha dura da Guarda Revolucionária e a administração relativamente moderada do presidente Hassan Rouhani, que na última primavera determinou que as acusações de espionagem não tinham fundamento”, diz a Science. Interpretação semelhante foi feita em fevereiro pelo jornal The New York Times.
Acusação sem precedentes
À Science, Tara Sepehri Far, pesquisadora do Human Rights Watch, afirmou que a acusação de “semear a corrupção na Terra” não tem precedentes. “É uma acusação muito bizarra contra ativistas ambientais”, disse.
Dois dos acusados, Ghardirian e Jowkar, são membros da União Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN), organização que publica a Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas.
“A IUCN está profundamente alarmada com as acusações”, disse o chefe da comissão de Sobrevivência das Espécies da organização Jon Paulo Rodríguez. Segundo ele, as armadilhas fotográficas são indispensáveis para monitorar o status e biologia das espécies ameaçadas. “Até onde sei, as únicas informações que temos sobre guepardos asiáticos foram obtidas por armadilhas fotográficas.”
Conhecida como guepardo asiático, a subespécie Acinonyx jubatus venaticus é considerada em risco critico de extinção pela IUCN, explicou Jowkar no ano passado, em entrevista à Agence France Presse sobre o início do programa de proteção (“Irán se moviliza para salvar los últimos guepardos de Asia”, El País, 31/out/2017).
Um dos ambientalistas presos em janeiro, Kavous Seyed-Emami, morreu em circunstâncias misteriosas em fevereiro na prisão Evin, em Teerã, informou na ocasião o jornal britânico The Guardian. As autoridades locais alegam suicídio. A data dos julgamentos dos oito acusados presos ainda não foi definida.
Na imagem acima, oito dos nove ambientalistas e pesquisadores detidos no Irã sob suspeita de que suas câmeras para monitorar guepardos asiáticos estivessem sendo usadas para espionar programa de mísseis. Foto: Center for Human Rights in Iran/Divulgação.
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