Futuro ministro da Ciência e Tecnologia incorpora vaivéns do presidente eleito Jair Bolsonaro em afirmações sobre o próximo governo
MAURÍCIO TUFFANI,
Editor
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Os vaivéns em declarações sobre seu futuro governo, que já se tornaram um padrão do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), parecem já ter afetado seu escolhido para o cargo de ministro da Ciência e Tecnologia, o engenheiro, ex-astronauta e tenente-coronel Marcos Cesar Pontes.
Ontem, terça-feira, após aparecer à tarde nos sites dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmando que se esforçará para garantir investimentos privados em universidades públicas, Pontes foi destaque à noite no portal Estadão.com, do diário O Estado de S. Paulo, dizendo nem ter certeza se o ensino superior sairá do Ministério da Educação para se tornar atribuição da pasta da C&T.
Às 16h51, no site da Folha, Pontes foi mostrado na reportagem “Ministro de Bolsonaro defende participação privada em universidades públicas”, da jornalista Laís Alegretti, afirmando:
A nossa legislação tem que ser revista para permitir que as universidades recebam recursos do setor privado diretamente. É importante ver modelos que funcionam para trazer esses investimentos para dentro das universidades, para melhorar a infraestrutura das universidades, laboratórios. Investimento privado e doação também.
Às 17h30 foi a vez de O Globo, com a reportagem “Marcos Pontes planeja liberar capital privado para pesquisas em universidades”. Após iniciar a matéria dizendo que o futuro ministro “afirmou nesta terça-feira que uma de suas prioridades será incentivar parcerias entre empresas privadas e universidades públicas no país”, o jornalista Jailton de Carvalho mostrou o ex-astronauta comentando que existe “resistência de parte da comunidade científica à presença do capital privado em universidades públicas”.
Na sequência do texto de O Globo, ainda sobre essa resistência acadêmica, o futuro ministro é mostrado fazendo a seguinte declaração.
[A resistência] É algo que vai sendo superado. Não tem problema nenhum. O objetivo é fazer com que universidades funcionem bem.
Não é bem assim
Essas afirmações desmancharam no ar às 19h29, quando foi publicada no Estadão.com a reportagem “Marcos Pontes diz que novo governo não decidiu se universidades vão para Ciência e Tecnologia”, com o subtítulo “Indicado para chefiar a pasta, o engenheiro afirma que a definição será tomada pelo futuro ministro da Casa Civil e presidente eleito”.
Não bastasse o reconhecimento de sua incerteza sobre o destino de sua futura pasta, o astronauta é mostrado pela jornalista Lorenna Rodrigues afirmando que a decisão sobre a saída do ensino superior do MEC será tomada pelo futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e pelo próprio Bolsonaro e evitou se posicionar sobre o assunto. Em outras palavras, Pontes sugeriu que a decisão não será técnica, mas política.
No final das contas, tornam-se cada vez mais evidentes os sinais de que o comando da equipe transição do presidente eleito não tem clareza sobre qual rumo seguir nas áreas de ensino superior e de ciência, tecnologia e inovação.
Pontes faz parte dos 27 assessores de Bolsonaro em sua equipe de transição anunciada na segunda-feira. A esse grupo foi atribuída a compreensão de que as ações entendidas como necessárias para o Brasil exigem determinação e a certeza expressa pelo velho ditado de que não se faz um omelete sem quebrar ovos.
O problema, dado o padrão já consolidado por Bolsonaro dos vaivéns em declarações, é de que o avanço no discurso pode se tornar um caminho sem volta. E que poderá chegar a hora em que o omelete estará pronto. E não será possível desfritá-lo.
Leia também:
- “Astronauta e futuro ministro Marcos Pontes negou por anos ser sócio oculto de empresa. Virou dono dela depois que investigação prescreveu.” (Alexandre Aragão, The Intercept)
Na imagem acima, o presidente eleito, Jair Bolsonaro, e o tenente-coronel e ex-astronauta Marcos Pontes, em julho, ambos ainda candidatos a presidente e a suplente de senador, respectivamente, na convenção nacional do partido, em São Paulo. Foto: Marcelo Chello.
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