Réu em ação judicial por improbidade, Ricardo Salles fez nomeações político-partidárias para chefias de unidades de conservação.
MAURÍCIO TUFFANI,
Editor
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O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), que deve anunciar ainda hoje o ministro de Meio Ambiente de seu governo, recebeu na tarde de ontem o advogado Ricardo de Aquino Salles, do Partido Novo, que foi secretário particular (2013-2014) do então governador Geraldo Alckmin (PSDB) e seu secretário do Meio Ambiente (2016-2017), informou o jornal O Estado de S. Paulo.
A reportagem do Estadão afirmou que “a favor do advogado, aliados de Bolsonaro disseram que ele [Ricardo Salles] reduziu o número de cargos políticos, enxugando a secretaria [do Meio Ambiente]”. Na verdade, Salles foi constantemente criticado por pesquisadores e por ambientalistas por tomar decisões sem levar em consideração aspectos técnico-científicos e por contratações de políticos para chefias de unidades de conservação, entre outros motivos.
Salles deu início a um estilo de gestão marcado por confrontos públicos com técnicos da pasta, ambientalistas, pesquisadores e promotores de Justiças. Além de bloqueios de pagamentos de serviços que já haviam sido contratados – inclusive para elaboração de planos de manejo – , Salles determinou cortes de despesas e transferências de pessoal que inviabilizaram o funcionamento de alguns setores, gerando descontinuidade na política ambiental do estado.
A permanência de Salles na Secretaria do Meio Ambiente (SMA) foi desgastada principalmente desde o início de 2017, quando ele se tornou réu em uma ação civil pública do MP estadual sob a acusação de ter alterado ilegalmente o zoneamento da proposta de plano de manejo da Área de Proteção Ambiental da Várzea do Rio Tietê.
‘Risco inaceitável para o Estado’
No início de agosto de 2017, o MP abriu inquérito por Salles ter dado andamento a uma proposta de negociação do imóvel da sede do Instituto Geológico, na capital, apesar de parecer de sua própria Consultoria Jurídica que considerou a iniciativa “de risco inaceitável” para o estado. Em outro inquérito, o secretário passou a ser investigado por ter realizado chamamento público, sem autorização legislativa, para a concessão ou venda de 34 áreas do Instituto Florestal.
Salles pediu demissão no final de agosto de 2017, mas sua saída era esperada desde junho, quando a coluna Expresso, da revista Época, publicou a nota “Alckmin demitirá secretário do Meio Ambiente”. A nota afirmou que, preocupado com a disputa presidencial de 2018, o governador recomendou ao deputado federal Guilherme Mussi, presidente estadual do PP em São Paulo, para indicar outro integrante de seu partido para o cargo. Em 2016, Salles apareceu em vídeos de propaganda político-partidária do PP.
Ex-diretor jurídico da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Salles foi fundador do Movimento Endireita Brasil, agremiação político-ideológica criada em 2011 para “corrigir” o que ele e seus companheiros chamaram de “demonização da direita no Brasil”. Rompido com o PP, pelo qual se candidatou sem sucesso a deputado estadual em 2010, Salles ingressou no Partido Novo, pelo qual se candidatou a deputado federal neste ano.
A reportagem não teve resposta de Ricardo Salles aos contatos por meio de mensagens a telefones e do WhatsApp.
Na imagem acima, o então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), na cerimônia de nomeação de seu secretário do Meio Ambiente, Ricardo Salles (PP), em 18 de julho de 2016. Imagem: Governo do Estado de São Paulo/Canal do YouTube/Reprodução.
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